quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Vacina contra urubus


Prova da mercantilização da Copa São Paulo de futebol júnior é a multa rescisória estabelecida pelo Inter para a estrela de seu time júnior, o meia Tales – R$ 30 milhões. Como a Lei Pelé determina que a multa não pode ser superior a 100 vezes o salário anual do jogador, Tales, aos 18 anos, recebe no mínimo R$ 25 mil por mês – rendimento superior ao de um ministro do Superior Tribunal de Justiça, que embolsa R$ 23,2 mil por mês.

Não fosse o assédio de empresários, certamente o Inter não pagaria tal quantia a um atleta que nem estreou pelos profissionais. A multa, porém, resguarda o clube e dá garantia de que ninguém vai roubar suas revelações. Com organização, dá para tirar proveito da Lei Pelé e de competições cada vez mais vigiadas, como é a Copa SP. Se ninguém estiver disposto a pagar os R$ 30 milhões, o Inter vai ter propiciado a seu jovem meia uma ótima chance para crescer técnica e psicologicamente, enfrentando os melhores de sua idade.

Caso algum empresário arrume um clube ou um investidor disposto a pagar a grana, o clube também sai ganhando. Outros, como Botafogo e Sport, preferiram não disputar a Copa para evitar o assédio das aves de rapina. Evitam problemas, é certo, mas perdem também ótima chance de dar experiência e visibilidade a seus garotos. Porque ninguém se engane: as categorias de base não servem para formar grandes jogadores para a equipe principal, mas para lapidar diamantes que arrecadem uns trocados em negociações com o exterior. E, para esse propósito, os urubus da bola são muito bem-vindos.